Este é outro artigo interessante do blog antigo, que acho importante salvar.
Conceitos
Se você não conhece ainda o conceito de Software Livre ou de Open Source (sendo os dois diferentes um do outro), recomendo que ouça o Politicast 51, 52 e 53 e que leia os artigos do Anahuac. Pra resumir, Software Livre é uma linha ideológica dentro da Tecnologia que prega que os programas de computador são ciência e devem ser compartilhados, que a apropriação do conhecimento em torno deles seria antiética. É um resumo bem por alto pra adiantar a discussão, mas recomendo que veja os links que passei.
Podcast espero que você já saiba o que é. É o que chamam de “um programa de rádio na Internet”, mas que é melhor definido, como diz o Leo Lopes, como “Personal on-demand”. Como eu gosto de dizer, é “um blog cujo principal conteúdo não está nas postagens, mas nos anexos, que são em arquivos de audio”.
A produção de um podcast passa por alguns estágios. Desde a concepção do programa, convite aos participantes e construção da pauta até a publicação do arquivo já pronto,, o que deve ocorrer em um blog ou, ao menos, em alguma solução web que ofereça um arquivo feed RSS com os episódios. E entre pauta e publicação temos, claro, gravação e edição. O bom é que dá pra fazer tudo isso sem necessidade de instalar softwares proprietários (como chamamos os programas não-livres, sejam gratuitos ou pagos, o que torna essa história de proprietários X livres ainda mais confusa pra resumir: veja aqueles links…).
Preparação
O planejamento do episódio é a coisa mais simples de se fazer, tecnologicamente falando. Você pode utilizar até mesmo um arquivo de texto plano no seu computador ou smartphone. As pautas do Politicast eu tenho montado como tópicos simples. Você pode preferir algo mais elaborado, como mapas mentais. Em todo caso, há soluções livres que ajudam, com vantagens e desvantagens próprias a cada uma delas.
Owncloud: esta é uma solução de nuvem pessoal (é, tipo “um Dropbox”), mas oferece editor de texto. Como se trata de uma solução e não de um serviço necessariamente, você tem duas opções para usá-lo: pode procurar um serviço existente (pago ou gratuito) ou pode instalar em um servidor seu (caso tenha essa condição tecnológica). Assim, você pode criar as pautas e compartilhar com usuários que estejam cadastrados no mesmo servidor que você, o que é especialmente útil para compartilhar pauta entre participantes fixos.
Etherpad: este é outro software livre também muito bom, mas com outra finalidade: é um gerenciador de documentos compartilhados. Você cria um “pad” (que funciona como um arquivo de texto disponível na rede e editável no navegador) e qualquer pessoa que tenha o link para esse “pad” poderá editá-lo também, inclusive ao mesmo tempo que você. Também oferece um chat entre os editores. Assim como acontece com o Owncloud, você pode tanto procurar um serviço de Etherpad gratuito quanto instalar seu próprio servidor.
FreeMind ou FreePlane: são softwares para construção de mapas conceituais. Eles podem ser bem úteis para a criação de pautas por permitirem agrupar visualmente tópicos, citações, imagens (incluindo memes) em uma tela que dá visão geral. Os dois softwares são para desktop e em Java, ou seja, seu uso envolve gerar uma imagem com a pauta-mapa final para ser compartilhada entre os participantes (a menos que você prefira controlar toda a pauta sozinho, o que podcasters fazem também).
Gravação
Este é o ponto mais sensível da produção de podcast se você pretende se ver livre de soluções proprietárias. Para isso, vamos considerar 3 forrmas de gravar um episódio, ok? Você pode gravar de forma presencial, de forma remota e assíncrona ou de forma remota e síncrona (ao mesmo tempo). Para a forma presencial é simples: você talvez tenha um notebook já com programa de gravação instalado, ou um celular com aplicativo de gravação. Se quiser uma gravação mais sofisticada, precisará de equipamento caro devidamente instalado e configurado. Uma vez feito isso, pronto, já pode gravar. Não há muito o que dizer sobre gravação presencial (ao menos para propósito deste artigo). Em último caso, você pode comprar um gravador digital e utilizá-lo.
Para gravação assíncrona, cada participante pode gravar um segmento de audio e mandar por e-mail, mas isso torna tudo muito chato, trabalhoso e difícil, de modo geral. Uma boa solução é utilizar uma ferramenta de comunicação como o Telegram. O Telegram vai organizar os arquivos de audio na sequência em que foram enviados. Cada um ouve os audios anteriores antes de gravar o seu, o que pode ser feito utilizando o próprio Telegram, sem necessidade de aplicativo adicional. Para esse tipo de gravação, é interessante que os participantes estejam em um grupo específico para essa finalidade, pra facilitar a “colheita” dos audios depois. Ah, sim, o Telegram é controverso porque o servidor não é livre. O aplicativo cliente, porém, é livre e, ao menos por enquanto, Telegram é a melhor opção que nós temos para comunicação dessa forma.
Para gravação síncrona costumam utilizar por aí o Skype com uma “gambiarra gravadora” pra poder funcionar. O mundo do Software Livre nos dá uma opção mais interessante, menos falha e muito mais elegante que esta. Trata-se do Mumble. Mumble é um software para conversação em voz baseada em sala. É um tipo de software bastante utilizado por gamers que jogam em rede. O Mumble em particular oferece excelente qualidade de audio e compressão, além da maravilhosa funcionalidade de gravar a partir do próprio software, inclusive com opção de gravar multifaixa, onde para cada participante da conversa haverá um arquivo de audio próprio separado, e todos estarão sincronizados quando importados no editor. A desvantagem é que se trata de um software cliente/servidor e você precisa de um servidor para poder utilizá-lo. Existem serviços gratuitos disponíveis e você pode contratar um servidor pagando mensalmente caso tenha dificuldade de implementar um servidor exclusivo.
Edição
Software livre para edição de audio é o quesito mais conhecido deste artigo. Mesmo que não saiba que se trata de um software livre, quase todo produtor de podcast já conhece ou pelo menos ouviu falar do Audacity. Editor multifaixa, com vários efeitos disponíveis (fades, normalização e remoção de cliques, por exemplo, são essenciais). Pode ir com Audacity, que ele é utilizado até por alguns podcasters tradicionais.
Finalização
Tudo bem, você já tem o arquivo de audio (provavelmente um mp3 ou ogg vorbis). E agora? Bom, você precisa criar a capa do episódio. Para isso recomendo o Gimp ou Inkscape. Considero o Inkscape mais bacana para esta tarefa já que se trata de um editor de imagens vetoriais, mas o Gimp é mais organizado se você não tiver muita experiência com edição de imagens.
Um truque realmente bacana e amplamente desconhecido é o uso de capítulos no episódio. É um recurso que permite dizer em que momento do audio inicia a conversa sobre cada tema. Bons aplicativos de gerenciamento de podcast suportam capítulos e facilitam nossa vida, principalmente quando precisamos encontrar uma parte de um programa que já ouvimos e queremos mostrar pra alguém. A solução que utilizo para esta finalidade (e que o @aurium me ajudou a dominar) é o ffmpeg. No final desta postagem segue o arquivo que utilizei como base para definir os capítulos do Politicast #69 /News. O comando para aplicá-lo foi:
ffmpeg -i politicast-69-news.mp3 -i politicast-69-news.txt -map_metadata 1 -c:a copy -id3v2_version 3 -write_id3v1 1 politicast-69-news-c.mp3
Com isso eu criei o arquivo com capítulos (que costumo salvar com sufixo ‘-c.mp3’). Utilize o comando e o arquivo em anexo para entender como funciona, para brincar e tentar aplicar capítulos no seu podcast também! 😀
Para aplicar a imagem de capa diretamente no arquivo de audio eu uso o EasyTag.
Publicação
Publicar não é complicado, pelo menos o blog. O problema principal é a publicação dos arquivos de audio, que por serem um tanto grandes podem estourar sua banda fácil, fácil. Uma boa solução para isto é o Archive.org, que permite armazenar os arquivos por lá.
Para o blog você pode escolher a opção que mais te agrade. Dependendo da solução, você pode ter mais ou menos trabalho para adequar o feed ao iTunes, por exemplo. O WordPress tem plugins próprios para podcast e facilita boa parte deste trabalho.
Exemplo de capítulos ffmpeg
;FFMETADATA1
;
title=Politicast #69 /News/
track=34
album=Politicast II
genre=Podcast
artist=Bemfica e Cárlisson Galdino
date=2016
encoder=Lavf56.40.101
[CHAPTER]
TIMEBASE=1/10
START=0
END=158
title=Intro
[CHAPTER]
TIMEBASE=1/10
START=158
END=8862
title=Robos roubando empregos
[CHAPTER]
TIMEBASE=1/10
START=8862
END=12766
title=Morre Teori
[CHAPTER]
TIMEBASE=1/10
START=12766
END=18072
title=Amorais no STF
[CHAPTER]
TIMEBASE=1/10
START=18072
END=24780
title=Teorias e crise penitenciaria
[CHAPTER]
TIMEBASE=1/10
START=24780
END=26703
title=Caos sem PM