Este artigo foi publicado em 2012, mas achei interessante resgatá-lo (e editá-lo um pouco também).
Quando cursava Computação na UFAL, terminei me deparando certo dia com uma revista que trazia o Delphi. O Delphi 1, para ser mais exato. Pra quem não conheceu, o Delphi era uma ferramenta para criar programas visualmente e programando em uma linguagem chamada Object Pascal.
Quanto ao Delphi 1, bem, estava muito desatualizado, já que o Delphi estava na versão 5, se não me engano. Claro que eu poderia conseguir uma cópia pirata, até mesmo com os colegas de turma, mas eu me preocupava com essas coisas. Pensava assim: se eu não sou capaz de respeitar direitos do outros, como posso exigir que respeitem os meus quando eu me formar?
Hoje o que penso sobre pirataria como um todo mudou bastante, mas não em relação a software. Continuo contra pirataria de software, apesar de as razões para isso terem mudado. Hoje eu sei que ao usarmos softwares piratas, nós estamos nos capacitando no uso daquelas ferramentas e isso se torna um problema com o tempo. Ficamos dependentes.
Mas não é disso que quero falar hoje: é dos tutoriais estilo receita de bolo.
Naquela revista com o Delphi 1, veio um tutorial exeplicando passo a passo como construir um editor de textos. Ensinava como montar a janela e o menu (isso é até intuitivo), mas ensinava também que códigos usar para abrir e salvar um documento, para copiar e colar e para procurar textos. Com base nisso, fiz um editor de textos simples e depois comecei a personalizá-lo. Assim nasceu o Cyber Editor (ou <yber Edi+or, para ser mais exato), o editor para a quem só o texto importa.
Ele tinha dois modos de apresentação: o modo normal e o modo Cyber. No normal, ele era uma janela simples; no Cyber ele mudava para tela cheia, aumentando a área útil para edição. Pois é, o que se popularizou anos atrás como “sem distração”. Seu visual com texto verde sobre o fundo preto era algo de que eu gostava bastante naquele tempo.
Eu me lembro também de ter implementado duas funcionalidades interessantes para ele.
A primeira era a opção de adicionar comandos, como um editor para programador. Você poderia definir, por exemplo, um comando no menu que abriria o navegador web com a página que você está editando no momento, ou um compilador.
Outra funcionalidade bastante útil eram os SSC, os scripts de Substituições Sucessivas Cyber. Havia comandos para acrescentar linhas no início e no fim do arquivo, para remover linhas e, claro, para substituir. Assim, poderíamos transformar HTML em texto, texto em HTML, texto em RTF e outras brincadeiras mais, utilizando simplesmente esse script. Eu nem conhecia o sed na época, mas os SSC funcionavam como um sed-script rudimentar.
O <yber Edi+or era meu editor padrão no Windows naqueles tempos e senti saudade dele à medida em que fui vivendo cada vez mais em GNU/Linux. Não havia Lazarus para portar.
Uma coisa muito legal sobre o <yber Edi+or é que ele apareceu um dia no caderno especial da Revista Veja. Aquele caderno que eles lançavam pelo menos uma vez por ano, trazendo recomendações de download diversas, divididas por categoria. Certo dia eu vejo o <yber Edi+or lá, na página de Editores de Texto! “Se só o texto importa, o Cyber Editor é uma opção”.
Isso tudo que estou falando hoje é para reforçar a importância de tutoriais estilo “receita de bolo”. São muito bons! Se a gente consegue fazer o básico e entendê-lo completamente, fica fácil expandir esse básico e incorporar novas ideias. Não tenho visto com frequência tutoriais tão bons quanto aqueles e realmente gostaria de ver. Faço então um apelo: se você domina uma ferramenta de desenvolvimento, por que não fazer um tutorial desses? Explique como funciona uma calculadora básica, como fazer um jogo de quebra-cabeças básico ou um cliente básico de Twitter. Você pode, sem perceber, estar contribuindo para o nascimento de um novo grande software.
Quanto ao <yber Edi+or? Bom, depois das substituições sucessivas e tudo o mais, eu tinha muitas boas ideias. Acontece que ele havia sido feito de um jeito “tão Delphi”, sem muita organização, que eu planejei refazê-lo do início. Era o Projeto Simbionte: um editor que se integraria completamente ao usuário, um projeto ousado, modular, complexo. Nunca escrevi uma linha de código efetiva para o Simbionete. Este projeto morreu antes mesmo de nascer, por excesso de planejamento e de diagramas.